Por estes dias, as filas intermináveis para as grandes superfícies comerciais não enganam: o espírito de Natal está ao rubro e pode atentar –
O grande Alexandre O’Neill disse um dia: “Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja, que o absurdo, mesmo em curtas doses, defende da melancolia e nós somos tão propensos a ela!”
Não me parece que nos possamos queixar da falta de absurdos quotidianos e se há batalha que gosto de travar é a (tantas vezes inglória) batalha contra a melancolia e o tédio.
Não poderia, pois, terminar 2022 sem um pequeno périplo profundamente aleatório por alguns absurdos de estimação que tornaram este ano um pouco menos monótono.
É já comum que, nestes últimos dias do ano, se definam as famosas resoluções de Ano Novo (que raramente são cumpridas) e se mergulhe na profunda reflexão “o que esperamos do Ano Novo que aí vem?”. Sabia que, de acordo com um estudo, em média, um adulto passa cerca de 389 dias da sua vida à espera de coisas? E, normalmente, espera sentado. Esperar e insultar é quase um desporto para alguns. Se emagrecesse, seria perfeito.
Por falar em esperar sentado: há quem tenha a sorte de ser pago para não fazer nada, como é o caso do japonês Shoji Morimoto, que é pago simplesmente por existir e fazer companhia a quem o contrate. Um emprego de sonho, dirão muitos.
Já que falamos sobre sonhos: o Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos solicita, encarecidamente, que as pessoas parem de lamber o sapo do deserto de Sonora, no Arizona. O animal liberta uma toxina perigosa que contém um poderoso (e muito desejado) alucinógeno. Há quem engula sapos e há quem os prefira lamber. São duas formas alternativas de levar a vida.
Também há quem prefira alucinar com recurso a substâncias legais (mas de gosto muito duvidoso), como é o caso do reality show Big Brother ou…. o cheiro a batatas fritas. Se prefere este último, saiba que a Comissão de Batatas de Idaho lançou uma fragrância feita a partir de batatas destiladas e óleos essenciais. Parece-me um conceito vencedor. Entre o Big Brother e o odor a batatas fritas, também prefiro este último.
E já que estamos em jeito de balanço no campo das bizarrias, o motor de busca Google compilou as palavras mais pesquisadas em 2022, bem como algumas das perguntas mais absurdas que são digitadas (há muita gente a imaginar que, por trás do motor de busca, existe uma equipa de especialistas e terapeutas, 24 horas por dia). Entre elas, destacam-se: “Estou grávida?”; “Como é que eu chego a casa?”; “Quando um homem diz “amo-te”, é verdade?”; “Porque é que nunca sonho com o meu marido?”; “Peidar queima calorias?” ou “O que acontece a quem bebe sangue?”.
Poderíamos continuar nisto durante horas, mas talvez esta amostra já tenha servido para domar a selvagem melancolia típica dos últimos dias de um ano em que a fonte mais citada pela imprensa portuguesa foi a irmã de Cristiano Ronaldo, Katia Aveiro.
Antes da despedida, faço minhas as palavras da acutilante Mafalda.
No próximo ano, que sejamos (pelo menos) pessoas melhores, para nós próprios e, principalmente, para os outros.
Feliz 2023!
Até breve!
Gustavo Sousa