Se há coisa de que não se pode acusar os portugueses é de não pensarem em grande.
Como esquecer a megafeijoada, servida em 1998, na Ponte Vasco da Gama, a 17 mil portugueses em êxtase por ajudarem a levar o feijão e a ponte diretamente para o Guiness World Records, com a inscrição de “a maior Ponte da Europa e a maior mesa do Mundo”. Goste-se ou não de feijão, há que reconhecer que somos fortes na organização de eventos.
E que ninguém venha dizer que somos forretas, porque, já se sabe, importa fazer bom e bonito e que os outros não venham depois dizer que somos pequeninos e que não sabemos organizar uma boa festa.
Entre 1 e 6 agosto, Lisboa irá acolher a Jornada Mundial da Juventude e, obviamente, já que vamos receber o Papa, há que arrumar a casa, lavar tapetes e cortinas e arejar as vistas. À falta de espaços condignos – pensou a Câmara de Lisboa – para receber o evento, mãos à obra e vamos lá construir dois palcos-altar.
Quando começaram a vir a público notícias sobre os custos associados, rebentou a indignação.
Sabe-se que o Governo prevê gastar cerca de 36,5 milhões de euros, a C.M.Lisboa cerca de 35 milhões, o município de Loures 9,5 milhões de euros, recorrendo a um empréstimo bancário (quem nunca?) e o orçamento da Igreja ronda os 80 milhões de euros.
Carlos Moedas, presidente da autarquia lisboeta, apressou-se a vir acalmar os ânimos, garantindo que a sua preocupação é “limitar os custos”, acrescentando: “A questão aqui é se nós queremos ou não ser, naqueles dias, o centro do mundo como vamos ser. (….) Querem ou não ter o Papa em Lisboa?”.
Lá está a pertinente questão sempre a desassossegar o português: queremos ou não ser o centro do mundo?
Já dizia Maquiavel: “Governar é fazer acreditar”.
A Dona Laurinda, a minha vizinha do 3.º esquerdo – que nunca leu Maquiavel, mas não lhe fica atrás em sabedoria – costuma dizer: “não se fazem omeletes sem ovos” – ou megafeijoadas sem feijões, digo eu.
Boa semana.
Gustavo Sousa