O empresário portuense Mário Ferreira irrita muita gente.
Se preferia que, esta semana, falássemos sobre a Shakira, lamento. Talvez numa próxima oportunidade.
Hoje, gostava de lhe falar sobre luxo. (Nos dias que correm, só mencionar a palavra já provoca uma espécie de urticária mental a muitos).
Mas, primeiro: Mário Ferreira. (Não sei quanto mede, mas quer-me parecer que leva à letra aquela frase do poeta que diz: “sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura.”).
Dono da Douro Azul e da Media Capital, tornou-se, no início de agosto, o primeiro turista espacial português, ao participar na viagem suborbital de dez minutos a bordo de uma nave da empresa aeroespacial norte-americana Blue Origin, de Jeff Bezos. Dez minutos para realizar um sonho pelo qual esperou 18 anos.
Quantos de nós não temos também sonhos generosos por realizar? Não é esse o combustível que nos faz mexer? Por que se tornou, então, tão ofensivo realizá-los? Porque, dizem, a crise amarga os dias e a inflação tolhe-nos as ilusões e os planos. Desde quando o sonho se tornou incompatível com a vida?
Perdoem-me, mas acredito que há sempre uma boa dose de inveja, daquela bem mesquinha, na bancada onde se sentam todos aqueles que adoram criticar os portugueses que ousam sonhar e que fazem acontecer bem acima da sua média estatura.
Voltemos ao luxo.
O sonho, em si, é um dos maiores luxos que podemos ter (isto é um pouco cliché, mas não deixa de ser verdade por isso). Desengane-se quem pensa que o luxo está intimamente relacionado com dinheiro. Não está.
O luxo é uma espécie de exclusividade que todos nós gostamos de saborear (e quem disser que não gosta, está seguramente a enganar-se).
O luxo é uma experiência a que todos queremos pertencer.
Seja naquele lugar no camarote VIP, para vermos o nosso clube jogar, graças aos bilhetes que ganhamos do nosso fornecedor;
ou a mesa junto à janela, no restaurante que fica mesmo por cima do rio onde aprendemos a nadar;
ou nos exíguos metros quadrados onde montamos a tenda, o único espaço, naquele Parque de Campismo no Alentejo, que nos permite assistir a um por do sol avassalador;
ou sentarmo-nos ao volante daquele carro sabendo que a marca produziu apenas meia dúzia de unidades;
ou a cortar as ondas, perto das ilhas sedutoras, no iate alugado pelo meu sogro;
ou a saborear o champanhe Veuve Clicquot raríssimo, que o nosso Administrador nos ofereceu, no dia em que fechamos o negócio em que andamos a trabalhar durante mais de dois anos;
ou na cerveja gelada, saboreada naquela praia com acesso privado pelas traseiras de casa do João.
Há uma frase num dos livros do Valter Hugo Mãe que diz: “Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende”. Não há como não respeitar Mário Ferreira. Tem sonhado grande, para ver se a realidade aprende. Flutuou, graças à gravidade zero, durante quatro minutos: “quatro minutos, se for bem treinado, dão para fazer muita coisa.”, esclareceu numa entrevista.
Não me identifico com a bancada dos que, sentados, criticam quem voa. Sou dos que acreditam que um minuto é suficiente para mudar tudo. Agora imagine o que se pode fazer em quatro minutos.
Se também acredita nisto, e tem um imóvel para venda, fale comigo.
Até breve!
Gustavo