“Só existe no mundo uma coisa pior do que falarem de nós. É não falarem.”
Quem o disse foi Oscar Wilde. Mais tarde, Henry B. King, presidente da Associação Americana de Produtores de Cerveja, aproveitando a inspiração, terá dito: “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.
(Levante a mão quem conhece um bom punhado de pessoas que rege a sua vida por esta filosofia.)
Para melhor alinharmos o tom da nossa conversa, chamemos a esta tendência, cada vez mais em voga – e alimentada de forma descontrolada pelas redes sociais -, Síndrome José Castelo Branco.
É muito provável que nos próximos dias se possa cruzar, numa das ruas de Lisboa, com o “socialite” (nunca compreendi o significado desta expressão, mas por preguiça mental, deixemo-la aqui ficar). Soube que o marchand d’art (mais um belo epíteto) foi condenado por ter roubado um perfume no Aeroporto de Lisboa. Terá de pagar uma multa de 550 euros e o sucedido ficará registado no seu cadastro (onde, aparentemente, já conta com três condenações anteriores).
Não nos cabe a nós, não estando na posse de toda a informação, fazer julgamentos, é certo. A bem da verdade, reproduzamos as palavras do protagonista (o marchand): “Estou-me a borrifar! Querem circo, eu dou circo. Vou fazer trabalho comunitário e vou maravilhosa. E vou pedir isso, porque sou pobrezinha e moro longe. Não vou é mais chatear-me. (…) Ando mais bem montado do que aqueles juízes. Porque eu uso Chanel. Por isso, estarei aí, a varrer de salto alto ou a tratar de pessoas de terceira idade, como já fiz”. Fim de citação.
Querem circo? Castelo Branco nunca se coibiu de ser histriónico e excêntrico, protagonizando, sempre que possível, situações caricatas e apontando para si todos os holofotes que se apresentassem disponíveis (e com disposição) para lhe dar palco. Isso é legítimo, porque o “Zé” sempre disse ao que vinha e não me parece que ande nisto ao engano.
Assumir como lema de vida “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim” não é, em si, um problema. É uma estratégia como outra qualquer. Podemos não gostar ou concordar, mas devemos aceitar quem gosta de gerir desta forma a sua marca pessoal, mantendo constantemente por cima da sua cabeça um cartaz em néon a anunciar o milagre que é.
Como disse um dia o grande Alexandre O’Neill (ainda antes do aparecimento das redes sociais): “Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja, que o absurdo, mesmo em curtas doses, defende da melancolia e nós somos tão propensos a ela!”
Se tem um imóvel para venda e não é adepto de absurdos e melancolias, fale comigo. Não trago por cima da cabeça um néon, mas prometo que, muitas vezes, faço milagres.
Até breve!
Gustavo Sousa